segunda-feira, 19 de maio de 2014

A ciência é para todos

Todos colhemos os frutos da ciência — e todos estamos sujeitos às consequências do uso do conhecimento científico. Todos sofremos também com as consequências da ignorância científica.

Essa ignorância revela-se não só em disparates inócuos como as teorias da conspiração sobre os traços dos aviões no céu, mas também em comportamentos muito mais graves, como a recusa em vacinar as crianças por causa de ideias falsas sobre o que são as vacinas e como funcionam.

Por fim, a ciência é uma óptima ferramenta para desenvolver o espírito crítico. Estudá-la e compreendê-la pode ajudar-nos a não cair em qualquer balela que nos tentam impingir no Facebook ou cara-a-cara.

É por isso que a ciência não pode ser um exclusivo dos cientistas, tal como os alimentos não podem servir apenas para alimentar os agricultores.

A ciência é essencial para todos nós.

A magia da realidade

Há quem procure explicações "sobrenaturais" para tudo. Não sei bem o que quer dizer "sobrenatural". Afinal, se um fenómeno existe, é natural. Os milagres, a existirem, seriam um fenómeno natural. Aliás, podemos até descrever "milagre" como qualquer fenómeno que a ciência ainda não explicou. Existem muitos desses milagres, mas a ciência lá os vai transformando, pouco a pouco, em fenómenos perfeitamente naturais.

Tudo isto para vos dizer que, perante aqueles que recusam explicações científicas com a desculpa que tais explicações tiram a magia ao Universo, prefiro os que sabem descrever de forma magistral a magia da realidade, ou seja, a forma espantosa como o mundo se revela à investigação científica.

Este é, assim, o livro que estou a ler por estes dias:


É um livro para crianças. A versão para adultos será este outro, que li há umas semanas:


Recomendo, tanto um como outro. Para que, de uma vez por todas, ninguém diga que a ciência mata o encanto do mundo. Antes pelo contrário, antes pelo contrário...

Os cientistas e os cépticos

A ciência avança pela acção dos cientistas. A actividade dos cientistas concentra-se nas questões a resolver e naquilo que querem descobrir. Raramente têm tempo para andar a desmontar ideias bizarras ou simplesmente erradas que não encaixam em nada do que se sabe sobre o mundo ou que já foram definitivamente falsificadas [1].

Há, no entanto, um movimento que tem muita importância para a cultura científica, composto por cientistas e por muitos não cientistas, e que se dedica a essa actividade de análise das ideias erradas: estou a falar do movimento céptico.

É um movimento que se dedica a proteger (digamos assim) as fronteiras da ciência, ou seja, a estudar todas as actividades que se dizem científicas e, na realidade, não o são. É também um movimento que se dedica a estudar ideias irracionais que se mantêm, apesar de terem sido abandonadas pela ciência (ou ignoradas, por não terem, literalmente, ponta por onde pegar).

No fundo, se quiserem, são uma espécie de Ministério de Defesa da ciência, tentando protegê-la de quem pretende imitar a linguagem científica sem ter, no entanto, qualquer conteúdo científico (a astrologia, por exemplo) ou de quem anda a divulgar ideias sobre o mundo e a natureza sem preocupações mínimas em validar o que está a dizer (os espíritas, os homeopatas, e por aí fora).

O movimento céptico também costuma atacar de forma feroz as diversas teorias da conspiração. Têm aqui uma boa análise desse fenómeno no blog Que Treta!, concentrado-se na teoria da conspiração da moda em Portugal: os chemtrails.

Já agora, quem estiver interessado, pode consultar o site da mais famosa comunidade céptica portuguesa, a ComCept: www.comcept.org. A nível internacional, temos a Fundação James Randi. São apenas dois exemplos.

[1] Digo "definitivamente" sabendo que, em ciência, nada há de definitivo. Mas é o que temos de mais parecido com isso: se eu disser que sabemos, definitivamente, que a Terra anda à volta do Sol, julgo que ninguém terá dificuldades em aceitar o uso de tal palavra, mesmo que, filosoficamente falando, a certeza nunca seja absoluta.

A ciência é de todos

Carlos Fiolhais diz-nos, em entrevista para o 5 para a Meia Noite:
A ciência é feita pelos cientistas, mas a ciência não é deles, é de todos. Os cientistas fazem ciência – descobrem o mundo – em nome da Humanidade. É sua obrigação entregarem à Humanidade, a todos nós, a ciência que fazem. A ligação entre ciência e sociedade, que é vital para a ciência, chama-se cultura científica. Os cientistas são e serão uma pequena parcela da população, mas toda a população pode e deve ter cultura científica, isto é, ter uma ideia do que é a ciência.
Exacto: a ciência é de todos e toda a população pode e deve ter cultura científica. Uma ideia simples, a reter.

domingo, 18 de maio de 2014

Avisos à navegação

  1. Este blog é escrito por um não cientista. Não me parece que isso me impeça de escrever sobre um tema que me interessa desde há muitos anos, mas convém revelar esse facto, não vá algum incauto achar que esta é a Voz da Ciência. Não: é apenas a voz dum apaixonado pela ciência, que na sua vida profissional se escapa para áreas bem afastadas destes temas.
  2. Tendo em conta 1., se algum cientista me vier aqui bater na cabeça porque estou a dizer um grande disparate, agradeço. Este blog serve, acima de tudo, para aprender.
  3. Este blog é escrito por alguém que vem da área académica da literatura e, por isso, peço desculpa se por vezes me escapar para esses lados, principalmente para os lados da relação entre as duas áreas. Além disso, lamento se nem sempre conseguir escrever de forma clara, concisa e apelativa. Infelizmente, o estudo da literatura nem sempre é a melhor opção para quem quer aprender a escrever de forma clara, concisa e apelativa...
  4. Às vezes, posso cair na tentação de escrever sobre Filosofia da Ciência — isto não sendo nem cientista nem filósofo. Espero que me perdoem, não só os filósofos e os cientistas, como todos aqueles que tiverem o azar de ler tais arrazoados.
  5. Este é um blog que defende a ciência. Não é um blog que tem como objectivo ensinar como a dita cuja é malvada, arrogante e perigosa. Podemos discutir se o é (eu acho que não é), mas fica declarado o meu enviesamento.
  6. Sendo um blog sobre ciência, será incómodo (espero) para astrólogos, homeopatas, médiuns e outros criadores de ignorância. Mas nada vos impede de me tentarem convencer que estou errado.
  7. Apesar do que digo em 6., fica aqui bem definido que o critério para publicação dos comentários será o da relevância, da atitude construtiva e ainda do capricho pessoal. Sim, eu sei: isso do capricho é pouco científico: não faz mal, eu não sou cientista.
  8. "Então, se os comentários não são abertos, como posso convencê-lo de que não tem razão nisso da astrologia?" Primeiro: escreva um comentário relevante e construtivo (e bem argumentado) e o meu capricho pode acabar por ser publicá-lo (provavelmente, com resposta). Se não conseguir, tem sempre o seu próprio blog para escrever. Ou pode usar o email para enviar insultos, se estiver para aí virado.
  9. Esta história dos insultos é a brincar. Por favor, não me insultem. Obrigado.
  10. Ter dez pontos nestas listas fica sempre bem. Tem qualquer coisa a ver com os dez dedos da mão, pelos vistos.